Recentemente o Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) encomendou ao Datafolha uma pesquisa sobre o consumo de bebida alcóolica entre jovens maiores de 18 anos. O levantamento mostrou que 55% dos brasileiros nessa faixa etária consomem bebidas alcoólicas, sendo que 32%, ou seja, um em cada três indivíduos, consomem semanalmente.
A pesquisa mostrou ainda que desses, 44% consomem mais de três doses por dia ou ocasião e nesse grupo 11% consomem acima de dez doses por dia. A dose padrão à qual a pesquisa se refere é a de 14 g de álcool puro, o que corresponde a 45 ml de destilado, ou 150 ml de vinho ou a uma lata de cerveja.
E não é muito difícil encontrar pessoas que se encaixem nesse perfil. Em novembro do ano passado dados da Pesquisa Nacional de Sáude 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que Salvador é a capital brasileira com maior consumo de bebidas alcóolicas do país.
O motoboy Júnior Moreira tem 23 anos e costuma beber três vezes por semana. Morador do Trobogy, ele faz questão de destacar que seu consumo é acima da média estabelecida na pesquisa.
“Costumo me reunir com amigos sexta, sábado e domingo, mas as vezes a gente já começa na quinta. Não sou muito de contar quantas garrafas de cerveja a gente bebe, mas na maioria das vezes não é só cerveja, sempre tem por perto bebidas destiladas onde o teor de álcool é bem maior”, explica.
Ele garante que já tentou várias vezes diminuir a quantidade de bebida, mas a tentação é grande. “Como é que a gente vai ‘bater o baba’ numa sexta de noite e ficar sem beber nada? O problema é que não é só uma, aí dá merda, é só ladeira abaixo”, diz aos risos.
O microempresário Ricardo Santana tem 36 anos e se autodeclara ‘cachaceiro’. Em conversa com o BNews ele fez questão de dizer que beber é a sua diversão. “Trabalho muito, viajo pouco, minha diversão é essa: sair com os amigos pra beber. Tem gente que julga, acha que é demais, mas eu gosto, não tô fazendo mal a ninguém”, enfatiza.
O levantamento – realizado no mês de setembro – revelou ainda que entre aqueles que afirmam consumir de uma a duas doses de álcool por dia ou ocasião, as mulheres (42%) consomem mais do que homens (32%) e mais do que a média nacional (37%), assim como pessoas acima de 60 anos de idade (52%). Segundo a pesquisa, à medida que aumenta o consumo por dia, diminui a faixa etária, sendo de 10% e 12% entre pessoas de 18 a 59 anos de idade, contra 5% entre os maiores de 60 anos de idade.
Segundo reportagem da Agência Brasil, entre os brasileiros que consomem três ou mais doses de bebida por vez, 44% são homens, percentual que sobe para 49% entre os homens nas classes AB.
Doenças
A maioria dos entrevistados acredita que o consumo frequente de álcool lidera o ranking de causa tanto do câncer de fígado quanto da cirrose, mas a maioria (56%) negligencia sua saúde quando afirma nunca ter feito exame para avaliar dano do fígado relacionado ao consumo de álcool.
Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Fígado, Paulo Bittencourt, não existe limite de segurança para o consumo, já que a sensibilidade ao álcool é individual. Mas de acordo com o especialista, de modo geral, para pessoas sem doença hepática, o consumo moderado, que é de 14 doses para homens por semana, ou sete doses para mulheres por semana, pode ser considerado seguro. Para aqueles que têm algum tipo de doença ou gordura no fígado o indicado é não consumir.
“Mesmo aquelas pessoas que bebem apenas aos finais de semana, conhecidos como bebedores sociais, têm risco duas vezes maior de cirrose, quando seguem o padrão de consumo caracterizado pela OMS [Organização Mundial da Saúde] como bebedor pesado episódico (BPE), isto é, mais de quatro e cinco doses de álcool por ocasião, respectivamente para mulheres e homens”, diz o instituto.
Segundo o instituto, apesar dos riscos, a maioria das pessoas que consome bebidas alcoólicas não desenvolverá cirrose e câncer de fígado, porque para isso, além do uso abusivo do álcool existe susceptibilidade individual, fatores genéticos e ambientais, tais como doença hepática subjacente, obesidade e diabetes que aumentam o risco de dano hepático pelo álcool.
“A recomendação é pelo consumo moderado e consciente, dentro dos padrões considerados como mais seguros, para quem não tem doença hepática. Entretanto, para quem passou ocasionalmente do limite, é importante compensar o uso abusivo com abstinência de álcool nos dias subsequentes, beber bastante líquido e se alimentar de forma adequada. O uso de analgésicos pode potencializar seus efeitos hepatotóxicos associado ao uso de álcool”, explicou o especialista.
Os especialistas recomendam que sejam feitos exames de avaliação de enzimas hepáticas (sangue) disponíveis nas redes pública e privada em todos os indivíduos que façam consumo abusivo de álcool, mesmo aqueles com padrão de bebedor pesado episódico.