Ministério da Defesa da Rússia informou nesta quarta-feira que um de seus navios de guerra efetuou disparos de alerta contra o destroier HMS Defender, da Royal Navy, no Mar Negro, próximo à costa do Cabo Fiolent, na Crimeia.
Os disparos teriam sido efetuados em advertência pela violação das águas territoriais russas na região da Península da Crimeia. Segundo informado pelo ministério, o navio britânico “recebeu alerta preliminar de que artilharia seria utilizada em caso de violação das fronteiras da Federação Russa, mas não reagiu”.
“Um navio de patrulha realizou disparos de alerta”, continuou o órgão, acrescentando que uma aeronave de ataque Su-24 lançou quatro bombas de fragmentação na rota do navio britânico, que teria deixado a região logo em seguida.
Segundo a agência de notícias russa Interfax, logo depois do incidente o Ministério da Defesa da Rússia convocou o adido militar britânico no país para esclarecimentos.
No Reino Unido, o Ministério da Defesa negou disparos contra o navio e não reconheceu o incidente. Em nota, os britânicos informaram que “os russos realizaram um exercício de artilharia no Mar Negro e deram um aviso prévio à comunidade marítima”.
Ainda de acordo com a nota, “nenhum disparo foi direcionado contra o HMS Defender e não reconhecemos que bombas tenham sido jogadas em seu trajeto”.
O ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, disse que o destroier navegava em um rota internacionalmente reconhecida. “Nesta manhã, o HMS Defender realizou um trajeto de rotina entre Odessa, na Ucrânia, e a Geórgia através do Mar Negro.”
“Como é normal nessa rota, o Defender entrou em um corredor de trânsito internacionalmente reconhecido”, disse ele. “Como é de praxe, navios russos monitoraram sua passagem e alertaram de exercícios de treinamento em suas proximidades.”
Apesar da negativa do ministério britânico, Jonathan Beale, correspondente de defesa da BBC que está a bordo do Defender, disse que o navio foi assediado pelos russos. O ruído de várias aeronaves em voo podia ser ouvido enquanto ele apresentava uma reportagem do convés do Defender.
Ele descreveu avisos hostis pelo rádio enquanto a tripulação se preparava para um possível confronto, acrescentando que havia mais de 20 aeronaves nos céus acima do navio britânico, além de dois navios da guarda costeira russa que seguiram o destroier, algumas vezes a menos de 100 metros de distância.
Trechos do relato de Beale, segundo publicado pela BBC:
“A tripulação já estava nos postos de combate ao se aproximar do extremo sul da Crimeia ocupada pela Rússia. Os sistemas de armas a bordo do contratorpedeiro já haviam sido carregados.
Este seria um movimento deliberado para ‘enviar uma mensagem’ à Rússia. O HMS Defender iria navegar dentro do limite de 12 milhas das águas territoriais da Crimeia. O capitão insistiu que estava apenas procurando uma passagem segura por uma rota de navegação reconhecida internacionalmente.
Dois navios da guarda costeira russa que seguiam o navio de guerra da Marinha Real tentaram forçá-lo a alterar o curso. À certa altura, um dos navios russos chegou a cerca de 100 m.
Avisos cada vez mais hostis foram sendo emitidos pelo rádio – incluindo um que dizia que ‘se você não mudar de curso, vou atirar’. Ouvimos alguns disparos à distância, mas acreditamos que estavam bem fora de alcance.
Enquanto o Defender navegava pela rota marítima, era possível ouvir os jatos russos. O capitão, Vincent Owen, disse que o navio detectou mais de 20 aeronaves militares nas proximidades. O comandante Owen disse que sua missão era ‘confiante, mas não confrontativa’.”
A Marinha Real Britânica havia informado dias atrás que o Defender havia se desligado da força que conduzia operações da OTAN no Mediterrâneo para realizar missões no Mar Negro.
O HMS Defender é um destroier Type 45 do grupo de ataque do porta-aviões HMS Queen Elizabeth. Segundo a Royal Navy, está realizando missões no Mar Negro. De acordo com a embaixada britânica na Ucrânia, o navio estava no porto de Odessa, no sul do país, no início desta semana. Reino Unido e Ucrânia teriam assinado um acordo para construir navios de guerra e duas bases navais.
Incidentes com aeronaves ou navios não são incomuns nas fronteiras russas, especialmente após o agravamento das tensões com o Ocidente. No entanto, raramente resultam em disparos de artilharia.